sexta-feira, 24 de setembro de 2010

29ª Bienal de SP abre com polêmica sobre obras de Gil Vicente e clima de renovação

Na série ‘Inimigos’, artista recifense desenha a si mesmo matando Lula, FHC e outras oito personalidades políticas.


Da esquerda para a direita: os curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos; José Luiz Herência, do Ministério da Cultura; Heitor Martins, diretor da Fundação Bienal; e Carlos Augusto Calil, secretário municipal da Cultura de São Paulo (Maria Carolina Maia/VEJA)
Que pichadores, que nada. A cinco dias da abertura para o grande público da 29ª Bienal de São Paulo, só se fala em Gil Vicente, o artista recifense que desenhou a si mesmo matando Lula, Fernando Henrique Cardoso, a rainha da Inglaterra e outras sete personalidades políticas. A polêmica se deve sobretudo à seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), que emitiu nota de repúdio ao que considera incitamento ao crime e encaminhou ofício ao Ministério Público pedindo que avalie se cabe inquérito. “É uma atitude mesquinha, que só vai dar publicidade ao artista”, disse Agnaldo Farias, um dos curadores-chefes desta bienal, ao lado de Moacir dos Anjos. A declaração de Farias, dada durante coletiva de imprensa nesta segunda, não deixa de transparecer o otimismo que cerca esta edição do evento. Após a “Bienal do Vazio”, como foi rotulada a edição de 2008, obstaculizada por uma grave crise financeira, a Fundação Bienal espera dar novo ânimo ao maior evento de artes do país.

A meta de público é ambiciosa: 1 milhão de visitantes – contra os 161.000 da edição passada. Para atrair tanta gente, a mostra reúne até 12 de dezembro, no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, cerca de 850 obras de 159 artistas. O investimento é de 30 milhões de reais, retirados dos 45 milhões arrecadados por Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal, junto a doadores – o valor restante será aplicado em reformas no Pavilhão da Bienal. Deve-se a Martins, um profissional de perfil executivo que é sócio-diretor da consultoria McKinsey, parte da brisa que sopra sobre o evento. Quando assumiu a presidência da fundação, em maio de 2009, a instituição somava dívidas de 4 milhões de reais. Agora, parece renovada. Assim como o evento.

Neste ano, diferentemente da Bienal de 2008, que teve o segundo andar totalmente desocupado, a exposição tem todos os níveis preenchidos. Com uma seleção de trabalhos focada em arte e política, a mostra terá polêmicas como os quadros de Gil Vicente, a presença dos pichadores ou a instalação do argentino Roberto Jacoby, uma verdadeira ode a Dilma e ao petismo (saiba mais abaixo). Mas também terá nomes de peso como Lygia Pape, Nelson Leirner, Cildo Meireles, Nuno Ramos e Hélio Oiticica, do Brasil, além dos indianos do Raqs Media Collective, da nigeriana Nnenna Okore, da alemã Isa Genzken, do chinês Ai Weiwei e do francês Jean-Luc Godard.

A 29ª Bienal de São Paulo abre ao público de 25 de setembro a 12 de dezembro, das 9h às 19h (de segunda a quarta-feira e aos sábados e domingos) e das 9h às 22h (às quintas e sextas-feiras). A entrada é gratuita. No sábado 25, excepcionalmente, o evento terá início às 10h. Confira abaixo alguns dos destaques da exposição . 


Maria Carolina Maia/VEJA
Inimigos
Série de desenhos do artista recifense Gil Vicente, que retratou a si mesmo matando personalidades que considera de poder político: o presidente Lula, o ex-presidente FHC, o papa, a rainha da Inglaterra, o ex-presidente americano George W. Bush, o israelense Ariel Sharon, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o ex-secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o senador Jarbas Vasconcelos.



Maria Carolina Maia/VEJA
A Alma nunca Pensa sem Imagem
Site specific – nome que recebe uma obra pensada sob medida para um determinado local – do argentino Roberto Jacoby, faz uma defesa escancarada do petismo, do qual o artista se diz fã. “Podem criticar e dizer que é propaganda, não tem problema”, disse ele a VEJA.com. O argentino (na foto acima, entre membros da sua equipe) vai distribuir broches com estrelas do PT feitos por sua equipe. “O PT não pôde colaborar por questões jurídicas.”



Reprodução

Je Vous Salue, Sarajevo
A partir de uma única foto do conflito em Sarajevo e uma série de enquadramentos e cortes diferentes, o vídeo traz um discurso do cineasta francês Jean-Luc Godard, com voz em off, sobre a função política da arte.


Divulgação

Metade da Fala no Chão – Piano Surdo
Com um derramamento de cera líquida sobre as cordas de um piano de cauda, a paulista Tatiana Blass cala as notas musicais. A peça faz parte de uma série da artista que está em andamento, feita por meio de intervenções em instrumentos musicais.



Divulgação

Plateia
Uma plataforma de cimento, tijolos e cadeiras é uma forma do português Pedro Barateiro falar de relações de poder e de significação em espaços de exibição – discussão que se encaixa no tema da Bienal, arte e política.



Divulgação
O Tríptico: o Guardião, a Guarda, as Circunstâncias
Obra do recém-falecido artista brasileiro Wesley Duke Lee, considerado um dos pioneiros da Pop Art no Brasil.



Divulgação

Arroz e Feijão
Obra de 1979 da italiana Anna Maria Maiolino, em que os grãos germinam nos pratos durante a exposição. A instalação é tida como um dos principais trabalhos da artista.

29ª Bienal de São Paulo

25 setembro - 12 dezembro 2010
A 29ª Bienal de São Paulo está ancorada na ideia de que é impossível separar a arte da política. Essa impossibilidade se expressa no fato de que a arte, por meios que lhes são próprios, é capaz de interromper as coordenadas sensoriais com que entendemos e habitamos o mundo, inserindo nele temas e atitudes que ali não cabiam e tornando-o, assim, diferente e mais largo.
A eleição desse princípio organizador do projeto curatorial se justifica por duas principais razões. Em primeiro lugar, por viver-se em um mundo de conflitos diversos, onde paradigmas de sociabilidade são o tempo inteiro questionados, e no qual a arte se afirma como meio privilegiado de apreensão e simultânea reinvenção da realidade. Em segundo lugar, por ter sido tão extenso esse movimento de aproximação entre arte e política nas duas últimas décadas, se faz necessário, novamente, destacar a singularidade da primeira em relação à segunda, por vezes confundidas ao ponto da indistinção.
É nesse sentido que o título dado à exposição, “Há sempre um copo de mar para um homem navegar"verso do poeta Jorge de Lima tomado emprestado de sua obra maior, Invenção de Orfeu (1952) –, sintetiza o que se busca com a próxima edição da Bienal de São Paulo: afirmar que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma, e não no que está fora ou além dela. É nesse “copo de mar” – ou nesse infinito próximo que os artistas teimam em produzir – que, de fato, está a potência de seguir adiante, a despeito de tudo o mais; a potência de seguir adiante, como diz o poeta, “mesmo sem naus e sem rumos / mesmo sem vagas e areias”.
Por ser um espaço de reverberação desse compromisso em muitas de suas formas, a mostra vai pôr seus visitantes em contato com maneiras de pensar e habitar o mundo para além dos consensos que o organizam e que o tornam ainda lugar pequeno, onde nem tudo ou todos cabem. Vai pôr seus visitantes em contato com a política da arte.
A 29ª Bienal de São Paulo pretende ser, assim, simultaneamente, uma celebração do fazer artístico e uma afirmação de sua responsabilidade perante a vida; momento de desconcerto dos sentidos e, ao mesmo tempo, de geração de conhecimento que não se encontra em nenhuma outra parte. Pretende, por tudo isso, envolver o público na experiência sensível que a trama das obras expostas promove, e também na capacidade destas de refletir criticamente o mundo em que estão inscritas. Enfim, oferecer exemplos de como a arte tece, entranhada nela mesma, uma política.
Equipe Curatorial
Com curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, a 29ª Bienal de São Paulo conta, ainda, com um grupo de curadores convidados de procedências diversas, os quais contribuem para que o projeto tenha amplitude e densidade compatível com a vocação internacional que a instituição possui desde sua origem, são eles: Fernando Alvim (Angola), Rina Carvajal (Venezuela / Estados Unidos), Yuko Hasegawa (Japão), Sarat Maharaj (África do Sul / Reino Unido) e Chus Martinez (Espanha).
O Lugar e o Tempo da Mostra
A exposição contará com cerca de 160 artistas de diversas partes do mundo, sem tomar a origem territorial como valor de seleção. Nesse sentido, reafirma-se a abolição das chamadas representações nacionais, traço característico da Bienal de São Paulo até poucos anos, mas que não mais traduz a complexa rede de migrações e de trânsitos que marca a vida contemporânea. É importante para a 29ª Bienal de São Paulo, porém, enfatizar o lugar e o tempo a partir dos quais ela é organizada: desde o Brasil e desde um momento de rápida reorganização geopolítica do mundo.
Bienal Estendida
O projeto aqui anunciado não se esgota na apresentação de um conjunto articulado de obras, embora este seja, é evidente, seu núcleo e seu lugar de destaque. Tampouco se comprime apenas nas datas em que a exposição estará aberta. A 29ª Bienal de São Paulo se estenderá a várias outras partes, e começa desde agora. Por meio de seu programa educativo, de atividades discursivas, de residências artísticas e de seu website, ela se afigura como um projeto múltiplo que aposta na arte como forma de conhecer e mudar o mundo de uma maneira únic
Calendário
20 de setembro de 2010
9 às 17h - Pré-abertura para imprensa

21 de setembro de 2010
9 às 17h - Imprensa
19h - Pré-abertura para convidados

22 a 24 de setembro de 2010
19h - Abertura para convidados

22 e 23 de setembro de 2010
Manhã e tarde - Professores (Programa Educativo)

25 de setembro de 2010
10h - Abertura ao público

12 de dezembro
de 2010
Encerramento
Horários de funcionamento
De 2ª a 4ª feira: das 9 às 19h.
5ª e 6ª feira: das 9 às 22h.
Sábado e domingo: das 9 às 19h.
Entrada gratuíta

sábado, 11 de setembro de 2010

Arte em ação


Para quem curte uma boa exposição está em cartaz no mês de Setembro, junto ao SESC de Ijuí, a exposição PROMESSAS, que trás a reflexão da questão SAGRADO e PROFANO: oposto e complemento.
Venha, aprecie e reflita!!!







Detalhes da Exposição